sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A Cena Rock Local

Documentário sobre a cena rock contemporâneo de Blumenau, apresentada através dos olhos de um roqueiro operário, que representa o rock em busca de si mesmo. Em sua trajetória encontra a galera do rock que através de depoimento revela como o rock local se mantém vivo. Com a intenção de valorizar a diversidade e talento das bandas locais.
Agradeço a todos os roqueiros que contribuíram para realização deste Projeto Experimental em Comunicação de conclusão do curso de Jornalismo. Há participação das dezesseis vozes e vinte duas bandas registrada nesta cena rock atual. Á contribuição da artista Cris e o poeta Otto na captação de depoimentos, no auxílio técnico e sonoplastia do guitarrista Rafael Leandro.
Roteiro e direção Priscila Gilinski Machado.

Confira Parte I



ParteII

domingo, 15 de novembro de 2009

Bananaia do Ápice ao Final

Capítulo III – Suave como licor

- Boa tarde moça, vem sempre aqui? Ou estava me esperando?
Senhorita Dornelles sorriu com o atrevimento bem humorado do rapaz.
- Olá... Boa tarde! Sim costumo vir aqui quando me perco da civilização e preciso comprar cigarros.
- Então acabou de se encontrar no sossego da Vila de Bananaia. Seja bem vinda estou abrindo o bar agora. Boaventura abriu a porta de ferro, enquanto Pélia observava as curvas de sua panturrilha ao se abaixar.
-Só tenho uma má notícia dona, em Bananaia não existem esses cigarros da cidade grande, aqui agente só fuma erva seca na folha da bananeira, na mercearia do seu Inocêncio tem fumo de corda, só que não abre hoje.
Ao se levantar fez um movimento brusco com a garganta e catarro na calçada como por hábito. Inicialmente Dornelles sentiu um embrulho em seu estômago vazio, se espantou com aquela atitude rústica, no entanto, sentia-se atraída por aquele gesto, juntou o pouco de saliva que ainda havia em sua boca e se permitiu cuspir também, era como desobedecer a uma regra libertar-se das amarras sociais.
Adentrou o bar, por alguma razão ele manteve as portas de ferro fechadas, ela não se importou, no íntimo preferia ficar a sós com ele, assim poderia evitar um pouco o possível falatório e a curiosidade sobre sua presença.
Por dentro achou o boteco simples e aconchegante, as paredes decoradas com bambu, balcão de madeira, com um grande barril de cachaça no meio, mesas também no formato de barril, cadeiras e banquetas de palha, um cacho de bananas suspenso próximo ao balcão, variados vidros de conserva enfileirados na prateleira.
A felicidade de Boaventura era visível em seus olhos que brilhavam como nunca com a presença da moça. Com habilidade, esticou um pedaço de folha seca com o canivete, colocou o fumo, enrolou uma cigarrilha para cada, enquanto falava orgulhoso de seu alambique, da produção artesanal da cachaça, das variedades da banana de sua cidade. Ela olhou para aquele exótico cigarro de bananeira sem filtro, abriu sua pequena bolsa de festa e retirou sua piteira, provar novos sabores com estilo. Ele acendeu sua cigarrilha que exalava uma fumaça densa e falou:
- Toma cachaça?
- É gostosa, mas pior que uísque pra se tomar pura.
- Vejo que não entende muito, a minha fórmula é especial, suave com sabor de licor e forte como toda pinga brasileira deve ser. Serviu uma dose a ela que se sentia relaxada e com o sorriso fácil enquanto fumava, tomou em um gole só, que queimou da garganta pra dentro.
- Puta merda – falou em voz alta –Juntos gargalharam.
E assim continuaram a conversa algumas vezes sexy e maliciosa, Boaventura não parava de falar de suas conquistas amorosas e pessoais na tentativa de impressionar a moça, também contava detalhes de como o bar passou por cada geração de sua família, enquanto preparava uma tábua de petiscos improvisado com suas conservas, mesmo em sua simplicidade a intenção era tratá-la como uma rainha.
Ovos de codorna defumados e alaranjados, esses Pélia não conhecia, saborosos para o seu paladar faminto, holmops, no momento melhor que caviar, banana seca como sobremesa, estava satisfeita. Mais uma dose de cachaça, ele ria de si mesmo ao lembrar que estava de ressaca ao encontrá-la. Ela completou:
- Ressaca pra mim é aquela manhã em que juramos que nunca mais vamos beber e nessa mesma noite enchemos a cara outra vez. E foi exatamente o que aconteceu, uma dose após a outra, agora sim sentia o suave sabor da famosa cachaça de Bananaia, um licor!

Capítulo IV – Neurose Teatral

Boaventura notou pelos modos educados de agir e falar que a moça era de fino trato, movido pela inevitável curiosidade de saber da vida daquela intrigante mulher indagou a Pélia sobre os porquês de sua vida, do seu passado, de como veio parar aqui entre outras explicações. Esta por sua vez calou-se por um longo instante, com o semblante sério, suas mãos começaram a tremer num gesto brusco derrubou os copos do balcão, perdendo suas forças e contraindo o corpo escorregou da banqueta até o chão e chorou aos prantos sem medo, nem vergonha.
Boaventura se assustou com o descontrole emocional da garota e se jogou por cima do balcão, tirando ela dos cacos de vidro, abraçando-a forte contra o peito, sussurrou baixinho em seu ouvido: - Está tudo bem agora, não precisa falar nada, não preciso saber. Respeito seu silêncio, chore o que tiver que chorar até o último soluço, talvez no fim do choro e do riso, esteja o começo da nossa capacidade de amar.
Pélia Dornelles sentia-se protegida e apaixonada por um estranho que na tentativa de conhecê-la a defendeu de si mesma. Ainda abraçados e agachados em frente ao balcão, ela percebeu que de alguma forma os dois se tornavam cúmplices.
Respirou fundo e começou a falar, gesticulando e se empolgando com as próprias palavras, com expressão teatral:
-Lembro-me da festa... Sorrisos falsos, hipócritas e gananciosos em volta de mim, todos interessados em dinheiro, luxúria e fama. Só por isso estavam ali, estranhos que diziam me conhecer, não havia verdade nem sinceridade naquilo tudo, me senti sufocada, só. A ilusão dos barbitúricos que me entorpeciam já não fazia o mesmo efeito, me afastei de todos e corri até o jardim, depois até o bosque, só assim me sentia viva, continuei correndo, fugindo de mim, da minha vida...
Só me dei conta que estava perdida quando amanheceu e me vi rodeada de bananeiras – pausa suspiro aliviada - me encontrei na paz de seus braços, aqui sou como você, anônima humana.
Ele não conseguiu entender tudo que ela dizia, não sabia o que era barbitúrico e não se atreveu a perguntar, mas entendeu o motivo do tormento: a fama, a opinião alheia.
Acariciou sua face estavam tão perto que ficou tentado a beijá-la, mas recuou sentindo toda sua fragilidade, secou suas últimas lágrimas. Depois de toda aquela cena, não foi à toa que quando a viu lembrou-se do cinema.
-Levanta a cabeça, senta aqui nesta mesa que vou servir uma dose pra gente conversar, senhorita Pélia Dornelles. Sou um sujeito simples, não entendo muito de fama e nunca fui pro estrangeiro, essas coisas do seu mundo.
Sou famoso em Bananaia, eu e minha cachaça, pra mim basta dona! Sei como é fácil se perder quando se tem tudo, por isso não troco meu sossego pela cidade grande, me contento com o pouco que tenho que pra mim já é muito!
Enquanto você pequena, não consegue passar despercebida, é notável se destaca na multidão com seu carisma, têm brilho próprio, não deixe que pessoas opacas ofusquem seu brilho é isso que elas pretendem... Reprimir o que há de melhor em você.
Pélia sorriu emocionada com aquelas belas palavras, em pensar que perdeu tanto tempo em psicanalistas e foi naquele fim de mundo num cantinho remoto do Brasil, que encontrou sábias respostas para suas dúvidas existências, o homem do campo que encontrou a realidade perdida. Sorriu! Novo gole na cachaça, já era outra, voltou a ser alegre, a conversa fluía naturalmente. Revelou apenas o que lhe era conveniente, como a paixão pelo rádio, onde iniciou sua carreira de cantora e atriz que a levou ao teatro, até chegar aos cinemas.
Boaventura nunca imaginou estar em frente a sua utopia de alcançar a maior das estrelas brasileiras. Perceberam que havia anoitecido, o vento batia forte contra a porta de ferro do botequim.

Capítulo V - O Ápice

- Vamos? Dançar e cantar ao vento! Sentir a brisa da noite! Em direção a lua! Vem!
Pisava em nuvens em direção a rua principal cantando, requebrando no palco da vida, Boaventura abriu seu paraíso para ela, enfeitiçado pela malemolência daquela mulher, seguia a hipnotizado plantação adentro, sua alma se envolvia pela energia contagiante daquela dança latina que despertava seus instintos mais profundos, o coração batia forte, a cabeça tonta, a ventania girava apenas ao seu redor como o olho do furacão. Sentou-se num clarão, perdeu Pélia de vista só ouvia, oras gargalhada aleatória, oras frases de canções desconhecidas que lhe agradavam. Apagou.
Acordou entre leves tapinhas preocupadas:
- Acorde! Meu bem! Abriu os olhos.
Girando entre bananas meio verdes um rosto delicado se destaca, despertando um desejo já maduro, duas bocas se procuram, lábios que se encontram, se elevam provocantes da confortável ternura ao úmido tesão.
Usufrui a descoberta das curvas, da nudez do desenho de seus corpos, o encaixe das formas, na longa escalada interior. Movem-se juntos, suor, mucosa, esperma e a paz vertiginosa...
Lado a lado, horas mais tarde, exaustos, deitados entrelaçados sobre folhas secas observavam a dança das folhas das bananeiras, o céu como um manto repleto de estrelas, a lua ocultava um dos seus lados, mas não minguava, crescia.

Capítulo VI - O Despertar Final

Pélia Dorneles adormece Boaventura a toma em seus braços com cuidado para não acordá-la, no silêncio da madrugada caminha em direção ao bar. Entre suspiros e devaneios de planos futuros... Um susto!
Ao cruzar a esquina o medo da perda percorre suas veias, amolece suas pernas, fez o corpo de sua amada pesar em seus braços trêmulos.
Na escuridão o vulto de um carro suspeito, o farol ascendeu e o cegou, ouviu um rugido de homens armários, armados. Um deles gritou:
- Parado!
Sentiu-se acuado, perdeu os sentidos, enquanto Pélia escorregava de seu colo até o chão, só então ela acordou, desnorteada sem saber o que estava acontecendo, enquanto Boaventura de joelhos discretamente colocava em sua bolsa uma banana da terra como símbolo de seu amor de que toda ilusão foi real.
Antes de qualquer expressão ou palavra ela foi agarrada por gladiadores covardes e repugnantes que a envolveram em um abafado casaco de pele nada tropical.
Os pneus cantam na madrugada de Bananaia, alguns vizinhos espiam pelas janelas, mas não ousam sair de suas casas, nem mesmo ascender às luzes. A criatura no meio da rua ergue a cabeça e lança um grito claro como a luz do sol, mas soou como um trovão pelo horizonte e pôs-se a correr como nunca correu na vida, atrás de sua banana da terra.
Correu contra o vento alcançando o carro, imune. De repente, vê lançada em sua direção a casca de sua banana, a prova de seu amor, inevitavelmente Boaventura escorrega. Caiu. Apagou.

sábado, 7 de novembro de 2009

Bananaia Brasil


Capítulo I – Boaventura

O sol brilhava enquanto o vento agitava as folhas de bananeiras no quintal, Boaventura acordou cansado um gosto amanhecido na garganta, lembrou-se do porretaço de sábado... Sem condições de trabalhar pela manhã, sequer imaginava as surpresas que lhe reservavam aquele domingo morno, por isso decidiu abrir o bar só depois da meia hora, fazia questão de abrir todos os dias.
Colocou sua velha jaqueta jeans disposto a seguir sua rota, ao cruzar a esquina, surpreendeu-se com a presença de uma bela senhorita com ares de cidade grande, aguardando impaciente em frente ao boteco. Andou lentamente para apreciar por mais tempo aquela estranha, mas fascinante mulher.
O vento demarcava suas curvas insinuantes em seu longo vestido esvoaçante, tinto como o vinho, uma fenda em um dos lados revelava pernas bem torneadas, sapatos altos estilo plataforma, cabelos negros e encaracolados na altura do ombro, olhos expressivos, lábios cor de carmim, o remetia a filmes antigos que seu pai o levava nas matinês de cinema da cidade vizinha. Voltou a se concentrar na moça, por um momento pensou se tratar de uma alucinação, afinal, há muito não se via turistas em Bananaia, ao se aproximar um intenso calor subia das partes baixas ao coração, empolgado com aquele despertar em seu peito resolveu iniciar conversa com a moça.


Capítu
lo II – Srta. Pélia Dornelles

Pélia Dornelles sentia-se exausta de caminhar entre bananeiras, amanhecida, os sapatos em uma das mãos, olheiras profundas, ainda sentia o efeito do álcool em seu corpo. Avistou uma pequena vila com comércio, comprar cigarros – pensou – colocou os sapatos e resolveu se aproximar.
Parou em frente ao bar, as portas fechadas, os moradores á olhavam assustados com o canto dos olhos. “Terra de camponeses” – sussurrou.
O sol acima de sua cabeça e seu estômago concluía que era meio dia, o vento forte batia nas janelas dos casebres próximos, poucas pessoas nas ruas. Olhou para a calçada, em uma das extremidades percebeu que o cimento ainda estava fresco, não resistiu e pisou levemente deixando a marca de seus sapatos: - Tudo são pretextos a um coração agoniado – falou com um sorriso maroto.
Desviou o olhar para a esquina, chamou sua atenção a presença de um jovem rapaz que se aproximava lentamente com um sorriso hospitaleiro. Observava seu corpo viril e escultural, enquanto caminhava o movimento de seus músculos formavam minúsculas ondas, a pele bronzeada pelo sol, lábios sensuais naturalmente perfeitos e carnudos.
Subitamente se sentiu atraída ao fixar seu olhar curioso nos olhos amarelos, cor de banana madura, daquele homem desconhecido. Arriscou um sorriso.

Capítulo III não perca semana que vem continua...